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Psol mira aliança com Lula em SP e 'avenida' à esquerda no Rio em 2024

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Psol mira aliança com Lula em SP e 'avenida' à esquerda no Rio em 2024

O Psol aposta suas fichas em São Paulo e no Rio para consolidar o crescimento do partido nas eleições municipais do ano que vem. Na capital paulista, a legenda luta para manter de pé um acordo costurado em 2022 com o PT para que o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoie o deputado federal Guilherme Boulos em 2024. Já no Rio, o partido vislumbra a possibilidade de encabeçar uma candidatura de esquerda contra o prefeito Eduardo Paes (PSD), que deve ter o apoio do PT.

 

Em entrevista ao Valor, o presidente nacional da legenda, Juliano Medeiros, afirma que, embora o Psol tenha votado contra o arcabouço fiscal e não almeje cargos na Esplanada, o partido é “definitivamente governo”. Ele destaca a boa relação com a cúpula petista e diz que o deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP) é o único obstáculo hoje para que o acordo seja cumprido.

No ano passado, Boulos abriu mão de sua candidatura ao Bandeirantes em troca do apoio do PT a ele na disputa pela prefeitura da capital. O acordo foi costurado com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann e o hoje ministro do Trabalho, Luiz Marinho, então presidente do diretório estadual petista, com o aval de Lula.

Entretanto, Tatto e seu grupo político vêm insistindo na necessidade de o PT ter uma candidatura própria, dizendo-se preocupado com os possíveis prejuízos que o apoio ao deputado do Psol traria aos candidatos a vereador do partido na capital paulista e na Grande São Paulo.

“[O rechaço ao acordo] está totalmente concentrado no Tatto, é um negócio que está ali centrado nesse setor do PT. O resto está todo mundo conversado”, disse Medeiros. “Vai ter dor de cabeça, vai ter muito arranhão, normal que tenha, mas a nossa ideia é até meio do semestre que vem formalizar a aliança com o PT.”

Medeiros acredita que o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), estará no segundo turno. E que, embora tenha apoio formal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), poderá ter a candidatura desidratada por um bolsonarista raiz. Ele afirma ainda ter recebido sinais do PDT em apoio a Boulos caso o apresentador José Luiz Datena, recentemente filiado à legenda, decida não concorrer.

Medeiros admite a possibilidade de recorrer a Lula, caso haja dificuldades em concretizar o acordo fechado em 2022. Mas acreditar que isso “não será preciso”.

Ao Valor, Tatto diz que a aliança com o Psol não está pacificada no PT paulistano. E comparou Medeiros a um personagem de ficcção.

“Eu acho que o Juliano está no país do Alice do País das Maravilhas. Está achando que está tudo bem, mas não está tudo bem. Porque eu converso com a base de PT, com os diretórios, com os filiados, com os vereadores, com os deputados, com os deputados do PT. Eles estão muito bravos”, disse. “Eu estou muito incomodado com o comportamento do Psol.”

Tatto afirma estar preocupado com a possibilidade de o PT, fora da cabeça de chapa para a prefeitura paulistana, ver minguar sua base de vereadores na cidade e na região metropolitana, uma vez que a propaganda eleitoral da capital é transmitida para toda a Grande São Paulo.

“O pessoal está acostumado a defender o 13, com o Psol vai ser o 50. Então tem essa preocupação na região metropolitana.”

Ele disse, no entanto, que “o problema estará resolvido de uma vez” caso Boulos se filie ao PT.

“Isso, inclusive, deixaria o presidente Lula mais à vontade”, diz. “Na medida que o Boulos vem pro PT, é o partido do presidente.”

Gleisi, por sua vez, reconhece a preocupação com as candidaturas a vereador da legenda como algo que “precisa ser trabalhado”. Ela, porém, reafirma o acordo com o Psol, que foi feito “no calor da campanha” de 2022, em um momento em que “era importante ter uma unidade do nosso campo”.

“Isso [acordo] não foi questionado na época. Até porque todo mundo queria que acontecesse. Então ninguém questionou, ninguém da nossa base, nenhum dirigente”, diz. “Todo mundo entendeu que isso era razoável e que era possível acontecer. Até pelo desempenho do Boulos para a prefeitura e da ausência de uma candidatura natural do PT à prefeitura de São Paulo.”

Sobre a possibilidade de Boulos se filiar ao PT, Gleisi diz que ele “seria muito bem recebido”. Mas indica que não forçará a saída do deputado de uma legenda aliada.

“É óbvio que gostaríamos muito de ter o Boulos no PT, um grande quadro político, uma pessoa que a gente tem muito respeito”, diz. “Mas nós temos que respeitar a filiação dele. Respeitar o processo de construção política dele. Não podemos exigir isso.”

No Rio, o Psol teve uma grande baixa no Rio com a saída do ex-deputado Marcelo Freixo, atual presidente da Embratur, para o PT. Mas acredita que o partido possa aglutinar a esquerda, caso o prefeito Eduardo Paes (PSD), que tem uma aliança costurada com o PT, insista na ideia de colocar seu ex-secretário da Fazenda, o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ).

“Se o PT, o PCdoB, se a turma for mesmo com o Eduardo Paes como tudo indica, vai abrir uma avenida para a esquerda de novo”, disse. “Se o Eduardo Paes botar o Pedro Paulo de vice, por que alguém vai apoiar o Eduardo Paes? [...] O Paes ainda é um cara que fala com a esquerda. O Pedro Paulo nem isso. Então, se o Eduardo Paes levar isso às últimas consequências, pode ser que o Psol seja um polo de reaglutinação.”

Nesse caso, diz ele, o Psol pode apostar na candidatura do deputado federal Tarcísio Motta ou na deputada estadual Renata Souza.

Valor Econômico