Moradores do Complexo do Alemão, na zona Norte do Rio de Janeiro, acordaram com os disparos feitos por agentes durante sobrevoo de um helicóptero da Polícia Militar, nesta quarta-feira (18), em uma operação que matou seis pessoas. No Twitter, a PM informou apenas que se tratou de uma ação para coibir o tráfico de drogas. Após a operação, porém, o governo do estado e a polícia não se manifestaram.
As ações que atingem moradores de favelas aumentaram desde que Wilson Witzel (PSC) assumiu o governo do estado, no início de 2019. Durante a manhã desta quarta-feira (18), trabalhadores não puderam sair de casa, enquanto escolas e creches foram fechadas, deixando crianças, funcionários e pais em pânico. A Clínica da Família Bibi Vogel também foi fechada. Imagens do caos instaurado pelo estado circularam nas redes sociais.
Deputada estadual responsável por denunciar Witzel por crimes contra a humanidade na Organização das Nações Unidas (ONU), Renata Souza (Psol) disse que o helicóptero foi usado como plataforma de tiro e compartilhou vídeos feitos por moradores. “Só quem vive isso sabe o dano psicológico causado por essa guerra insana. Se isso não lhe causa indignação, é porque perdeu a sua humanidade para a barbárie”, comentou a parlamentar.
Na última segunda-feira (16), agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) invadiram a sede de um curso pré-vestibular, o Núcleo Independente Comunitário de Alfabetização (NICA), na favela do Jacarezinho. Durante a operação, os policiais arrombaram portas e reviraram todo o material escolar da instituição. As aulas precisaram ser suspensas para a contabilização dos prejuízos causados.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o cientista social Pablo Nunes, que é coordenador de pesquisa do Observatório da Intervenção, grupo vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), disse que o aumento das operações no governo Witzel não reduziu índices de violência. Nunes também chamou a atenção para a escalada de mortes provocadas por policiais nos últimos meses.
“Nesse ano, houve aumento de 23% das operações policiais na capital, mas isso não teve impacto positivo, apenas fez aumentar os crimes que assolam a população mais pobre. E o estado do Rio teve aumento de 30% das mortes violentas com autoria de policiais. Esse contexto não é aceitável em nenhum lugar do mundo. Há estudos de que quando esse número ultrapassa os 10% de toda letalidade violenta, há aí um claro sinal de excessos e até de execuções praticadas por agentes de segurança”, afirma o pesquisador.
Invasões
Na página do jornal comunitário Voz das Comunidades, moradores também relataram invasão de casas nesta quarta-feira (18). O jornal chegou a lembrar um dos trechos do artigo 5º da Constituição Federal, que afirma que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.
A Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (Faferj) também compartilhou vídeos da operação e comentou nas redes sociais. “As favelas não estão em guerra. O que está acontecendo é um extermínio. Essa tática de sufocar as favelas é velha e não funciona, só traz caos, terror e morte aos moradores. Exigimos ajuda humanitária, temos direito à vida”, disse na publicação.
Edição: Mariana Pitasse\
Brasil de Fato