Petistas contrários a aliança com Paes no Rio sinalizam desembarque e defendem alternativa à esquerda
Apesar de o PT caminhar para apoiar a reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), lideranças importantes do partido na capital já sinalizam a possibilidade de desembarcar do projeto de aliança em 2024 e negociar com outros candidatos. Os dissidentes defendem o lançamento de um nome que aglutine as legendas de esquerda e faça frente tanto ao atual chefe do Executivo quanto ao representante do bolsonarismo. O PSOL, que se articula para encabeçar uma chapa, já mira nos petistas descontentes.
Um dos principais correligionários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que admite reforçar um palanque alternativo ao do prefeito é o deputado federal Lindbergh Farias. Ele afirma abertamente que o PT se precipitou ao entrar no governo de Paes e deixar alinhavada uma aliança.
— O PT foi quase destruído no estado, mas se recuperou. Elegemos sete deputados estaduais e cinco federais. Lula está de volta ao Planalto. Tudo isso justifica a importância de uma candidatura de esquerda. O partido se antecipou ao falar de apoio a Paes — afirma.
O petista deverá se encontrar nesta semana com o deputado federal Tarcísio Motta, um dos pré-candidatos do PSOL a prefeito. Além de conversar com Lindbergh, Tarcísio vai procurar o deputado federal Reimont, as deputadas estaduais Marina do MST e Elika Takimoto, e a vereadora Luciana Novaes, nomes que historicamente têm priorizado alianças de esquerda. O GLOBO apurou que esse grupo não rejeita a proposta de uma frente ampla e não descarta negociar com o PSOL.
Petistas divergem
No sentido contrário, o também deputado federal Washington Quaquá, que integra a Executiva Nacional do PT, afirma que o caminho natural é o apoio à reeleição de Paes, já que nas eleições do ano passado o prefeito fez campanha para Lula. Quaquá sustenta que é “zero a chance de apoiar o PSOL”:
— A tendência é (seguirmos) com Eduardo Paes. Mas temos que ajustar o programa de governo e a questão da escolha do vice — afirma.
Paes tem defendido que seu vice seja o deputado federal e homem de confiança de seu grupo político Pedro Paulo (PSD), o que reduziria a chance de o PT indicar um nome para vaga. A composição da chapa é uma exigência dos petistas para formar a aliança. O desempenho do governo Lula no próximo ano também influenciará na indicação. Em caso de aumento da popularidade do presidente, o PT se fortaleceria na briga pela vice. Segundo o presidente do diretório estadual do partido, João Maurício de Freitas, a posição hoje “é de apoio a Paes”.
— Dialogar é uma arte da política, por isso conversar com os partidos é muito importante. O que está colocado nas próximas eleições é continuar a trabalhar para derrotar o bolsonarismo no Rio. Temos de “coesionar” com aquele que hoje se coloca como o mais forte para essa disputa, que é o prefeito Eduardo Paes — diz o petista, que cita o apoio de Paes ao PT em 2022: — Eduardo teve um papel muito importante, principalmente no segundo turno, na eleição do presidente Lula. Estamos participando do governo e de conversas para sua reeleição. Mas a definição disso tudo só acontecerá no ano que vem. Não vamos descartar conversar com ninguém. Vamos procurar os partidos de esquerda para sensibilizá-los da importância da eleição na capital e de que teremos de ter muita responsabilidade nesse processo.
O PSOL aprovou no início deste mês uma resolução que prevê a candidatura própria na capital, sem a obrigatoriedade de chapa puro-sangue, o que abre espaço para conversas para a vaga de vice. Em meio às articulações, já houve encontros com parlamentares do PCdoB, como a deputada federal Jandira Feghali e a deputada estadual Dani Balbi. Ontem, Tarcísio se reuniu com o ex-deputado Alessandro Molon, iniciando conversa com o PSB. O PDT também será procurado pela sigla.
Dois na disputa
Dois nomes disputam internamente a vaga de candidato do PSOL à prefeitura do Rio: o deputado federal Tarcísio Motta e a deputada estadual Renata Souza. Tarcísio é um dos entusiastas de uma aproximação com o PT e defende que somente um bloco de esquerda conseguirá fazer frente a Paes e ao candidato da família Bolsonaro. Segundo ele, há uma previsão de que os votos de direita e centro-direita fiquem divididos entre o prefeito e o bolsonarista, aumentando as chances da esquerda num eventual segundo turno.
— O lançamento de mais de uma candidatura de esquerda pode enfraquecer o grupo. Por isso, a necessidade de uma aliança ampla. Iniciamos conversas para isso — ressaltou Tarcísio, ao citar que o nome do PSOL para a disputa deverá ser definido até agosto, após plenárias: — A expectativa é que o partido chegue a um nome de consenso. Eu e Renata temos propostas alinhadas.
Renata também defende a frente de esquerda e chama a atenção para o aumento da votação do PSOL em áreas que a sigla enfrentava resistências:
— Nas últimas eleições fomos bem votados nas zonas Oeste e Norte. Isso quebra a visão de que partidos de esquerda no Rio não atingem regiões mais popular.
O Globo
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