Pessoas próximas do caso Marielle Franco vivem sob ameaça
Especialistas, ativistas e parlamentares apontam que a situação realça o crescente aumento da violência política no País
Três anos após a morte da vereadora Marielle Franco, do PSOL-RJ, mulheres ligadas a ela ou à investigação do crime vivem sob ameaça. Os casos vão de ataques virtuais a planos concretos (segundo a polícia) de assassinato. Para especialistas, ativistas e parlamentares, a situação realça o crescente aumento da violência política no País.
Pesquisa das organizações Terra de Direitos e Justiça Global divulgada no ano passado já indicava um aumento da violência política no País de 37% em relação a 2016. O estudo mostrou também que as mulheres são vítimas de 76% das ofensas registradas. Outro levantamento, do Instituto Igarapé, entre as candidatas que concorreram em 2020, revelou que 78% das candidatas negras contaram ter sofrido ataques. "O Brasil é um lugar perigoso para ativistas de direitos humanos há muito tempo", afirmou a diretora executiva da Anistia Internacional, Jurema Werneck. "A diferença agora é que pessoas como Marielle, que vêm dos movimentos sociais, estão ocupando cada vez mais espaços. E as autoridades não cumprem o dever de condenar o racismo e o sexismo. Pelo contrário, advogam em favor de uma sociedade armada."
Para Pedro Abramovay, diretor do programa latino-americano da Open Society Foundation, na base do problema está o discurso de ódio disseminado pelo Palácio do Planalto. "Algumas pessoas acham que a retórica violenta na política é apenas retórica. Isso não é verdade", afirmou Abramovay. "Não é que a violência política ocorra por ordem direta de um presidente autoritário. É uma cadeia de transmissão entre o discurso de ódio e a violência real lá na ponta."
A cientista política Ilona Szabó, do Instituto Igarapé, vive no exterior desde o fim do ano passado, quando também recebeu ameaças de morte. Para ela, as estruturas de proteção de ativistas de direitos humanos estão corroídas. "Pela primeira vez desde a época da ditadura a hostilidade ao ativismo político vem do próprio governo; isso muda totalmente o jogo", analisa.
O Dia