Maior partido da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), com 12 deputados, o PSL de Jair Bolsonaro não conseguiu formar chapa para concorrer à presidência da Casa legislativa e não vai ocupar nenhuma cadeira na Mesa Diretora - órgão composto por deputados e encarregado de dirigir os trabalhos legislativos e administrativos.
A Alerj tem 70 deputados e, na última eleição, o MDB de Sérgio Cabral e Jorge Picciani, tradicionalmente com a maior bancada, perdeu lugares para o PSL. O MDB, que já teve 15 deputados, agora tem cinco. DEM e Psol também têm cinco parlamentares. PSD tem quatro. PT, SDD, PRB e PDT têm três deputados, cada um.
Para o deputado estadual Waldeck Carneiro (PT), o PSL é o resultado de uma onda surgida com Bolsonaro e das filiações partidárias que queriam surfar e conquistar um mandato parlamentar. Segundo ele, isso faz com que o partido esteja desarticulado em todas as assembleias legislativas do Brasil e também no Congresso Nacional.
“É natural que essas bancadas não sejam orgânicas e confluentes nas pautas e estratégias, porque são provenientes de uma certa artificialidade em função desse fenômeno eleitoral. Elas representam, ainda que de maneira desarticulada, um pensamento ultraconservador que teve êxito eleitoral em 2018 em uma eleição controvertida pelas razões que nós sabemos – prisão do Lula, fake news através de WhatsApp”.
Militante dos direitos humanos e ex-assessora do deputado Marcelo Freixo (Psol) quando o parlamentar tinha a vereadora Marielle Franco (Psol) como coordenadora de gabinete, a deputada estadual eleita Renata Souza (Psol) deve assumir a presidência da Comissão de Direitos Humanos. Ela comentou a fragmentação do PSL na Alerj.
“Não há a preocupação com a construção e a coerência partidária. Só há disputa entre seus súditos pela preferência do ‘Rei Bolsonaro’ e dos príncipes herdeiros, com demonstrações públicas de lealdade. Mas não estamos em uma monarquia e na Alerj esses interesses individuais fragilizam a lealdade ao rei”, avalia a parlamentar.
Presidência da Alerj
A desarticulação do PSL levou o governador Wilson Witzel (PSC) a apoiar o candidato do PT à presidência da Alerj, deputado André Ceciliano. Witzel nega que tenha ajudado na vitória do parlamentar. Para a cientista política Clarisse Gurgel, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o governador pegou carona na pauta de militarização para se eleger, mas agora tenta criar uma base de apoio.
“Efetivamente, quem está começando a exercer um poder lá dentro é Witzel que, a despeito de não ter sido apoiado diretamente por Jair Bolsonaro, colou sua candidatura à de Flávio Bolsonaro. Com isso, não só foi eleito subitamente, mas demonstrou laços com as forças militares. É um perfil que se enquadra num modelo de militarização urbana que começa a ser exportado para o Brasil”.
Deputados da frente progressista na Alerj, Waldeck e Renata concordam que, independentemente da falta de sintonia dos deputados do PSL, seus partidos trabalham para impedir a aprovação das pautas ultraconservadoras.
Waldeck argumenta que é necessário que haja o máximo de articulação e alinhamento dos partidos de esquerda, como foi com a recente candidatura de Marcelo Freixo (Psol) para a presidência da Câmara dos Deputados. Renata afirma que o PSL se isola por não compreender o diálogo e a democracia como algo inerente do parlamento.
“Nossa ideia é sempre a de trabalhar em uma articulação progressista e republicana”, diz Renata, lembrando as recentes derrotas do PSL na Alerj. “A tentativa de utilizar as Comissões de Direitos Humanos e Educação como moedas de troca para limitar a atuação à pauta da moral e dos costumes foi frustrada”.
Brasil de Fato