Parlamentares reagem a ataque de Eduardo Bolsonaro a Míriam Leitão
Deputado usou o Twitter para debochar das agressões sofridas pela jornalista na época da ditadura militar
Políticos de diferentes partidos cobraram punição e reagiram à postagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Twitter na qual ironiza a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo, durante a ditadura militar.
O parlamentar compartilhou uma imagem da última coluna dela no jornal e escreveu: "Ainda com pena da [emoji de cobra]".
Míriam foi presa e torturada enquanto estava grávida por agentes do governo durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Em uma das sessões de tortura, ela foi deixada nua numa sala escura com uma cobra.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) afirmou que a Câmara dos Deputados não pode aceitar o que ela chamou de deboche sobre os crimes da ditadura.
O empresário João Amoêdo, fundador do Partido Novo, disse que a ironia do deputado deve servir de alerta para os eleitores de São Paulo. "Não seremos uma nação decente e próspera elegendo pessoas que fazem declarações inaceitáveis como essa".
"Tenho nojo do que falou o Eduardo Bolsonaro sobre a Miriam Leitão. Fala de delinquente, de miliciano, de covarde", escreveu o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).
Para Ivan Valente (PSOL-SP), a violência do tuíte de Eduardo Bolsonaro é violenta por exaltar a tortura e a violência contra uma mulher na ditadura militar.
O senador Cristovam Buarque (Cidadania-DF) disse que a canalhice é um poço sem fundo.
"O que virá abaixo do deputado Eduardo Bolsonaro ironizar a situação de uma jovem militante presa grávida, jogada sem roupas no chão de cela ao lado de uma cobra jiboia viva? É difícil, mas algo pior virá dele ou de familiar. Já provaram que são capazes".
As ofensas recebidas por mulheres jornalistas no Twitter são mais que o dobro das destinadas aos profissionais homens.
A conclusão faz parte de um estudo de 200 perfis de jornalistas brasileiros na rede social que busca compreender os padrões de ataques a eles em ambientes digitais, com foco em questões de gênero e raça.
O trabalho foi feito pela Revista AzMina e pelo InternetLab, junto com Volt Data Lab, INCT.DD, Instituto Vero e DFR Lab, com apoio do ICFJ (International Center for Journalists).
No ano passado, Míriam lançou o livro "A Democracia na Armadilha - Crônicas do Desgoverno", que reúne textos de abril de 2016 a julho de 2021. Além de colunista do Globo, a jornalista mineira de 69 anos é apresentadora da GloboNews e comentarista da rádio CBN.
São 153 colunas ao longo de quase 500 páginas que têm como foco as ameaças à democracia, com um panorama do governo em geral. A fim de mostrar a ação do presidente para enfraquecer as instituições, os textos não se limitam à política partidária.
O regime enaltecido pelos Bolsonaros teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.
Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos.