'Nunca foi fácil ser oposição e foi pra isso que fui eleita', diz Renata Souza
Deputada foi a terceira mais votada com 174.132 votos
Terceira deputada na lista dos mais bem colocados no Rio de Janeiro, Renata Souza (PSOL) obteve 174.132 votos. Ela praticamente triplicou sua votação em relação à eleição passada. Nascida e criada na comunidade da Maré, prioriza em sua atuação a defesa dos direitos humanos. A parlamentar foi uma das mais destacadas da bancada de oposição na última legislatura da Alerj.
A senhora triplicou o número de votos em relação à eleição passada. Ao que atribui este crescimento?
Houve o reconhecimento do intenso trabalho feito nestes quatro anos do primeiro mandato em defesa da vida e dos direitos do povo negro e pobre das favelas, da periferia e do interior do estado, em especial das mulheres, LGBTQIA+, da juventude, do povo de axé. Esse resultado mostrou o acerto da nossa política construída com quem enfrenta no cotidiano a violência das armas do estado, a desigualdade econômica, a miséria e a fome, a precarização das políticas públicas.
Creio que esse reconhecimento foi possível porque acertamos em nossa estratégia de comunicação, em uma campanha articulada com os nossos movimentos sociais de luta e que conseguiu ocupar as ruas e as redes sociais com um recado muito direto: era fundamental não só a nossa reeleição, mas uma votação expressiva que nos permitisse voltar com ainda mais força.
Quais os novos desafios que espera em sua nova legislatura?
Seguiremos com ainda mais força na luta pelo direito à vida e à dignidade do povo preto e favelado, contra a violência, a miséria e a fome. Mesmo com a vitória do Lula no segundo turno, seguiremos no firme combate ao bolsonarismo numa Alerj que ainda seguirá predominantemente branca, machista, racista, elitista. Além disso, cumpriremos com ainda mais vigor a fiscalização e a denúncia desse governo bolsonarista genocida de Cláudio Castro. Temos muitos projetos de lei pra aprovar, como o PL Kathlen Romeu, pra proibir o uso de casas de moradores nas favelas para emboscadas policiais, e leis que precisamos fazer com que sejam cumpridas, como a Lei Agatha, pra priorizar a investigação do assassinato das nossas crianças. Além disso, temos que conquistar uma renda básica suficiente para combater a fome no estado, onde vivem 10% dos 33 milhões de brasileiros que sofrem com a falta de comida no prato.
Como imagina que será a relação da oposição com o governo Cláudio Castro?
Não será nada fácil enfrentar um governo eleito com a votação que o Castro teve e com uma significativa maioria da direita na Alerj. Mas nunca foi fácil ser oposição e foi pra isso que fui eleita. Quem votou em mim o fez de forma consciente seja porque se identifica diretamente com as nossas causas, e vive os impactos desse governo racista e violento, seja porque apoia essa causa da luta negra, do feminismo negro e do povo favelado.
Em relação à participação da bancada de oposição na assembleia, acredita que a correlação de forças mudou em relação à legislatura passada ?
Embora minoritária, sabemos como historicamente a nossa bancada de oposição é necessária e consegue fazer diferença na Alerj pela legitimidade da nossa voz e pelo caráter autêntico dessa voz coletiva, que existe e se manifesta pra muito além das paredes da institucionalidade. No caso do nosso mandato, por exemplo, apesar de todos os entraves, conseguimos aprovar 38 leis em 4 anos, entre cerca de 300 iniciativas legislativas. Realizamos dezenas de audiências públicas nas quais a voz do povo e dos movimentos sociais foram protagonistas. Fazemos política com os movimentos populares organizados, fazemos política a partir dos territórios onde vive o povo oprimido e discriminado. Nossa força vem dessas lutas históricas, vem da força das mulheres das favelas e da periferia, vem da juventude preta e também de nossos ancestrais. Lutamos de cabeça erguida porque lutar no nosso caso é uma questão de sobrevivência. Vale observar que houve uma renovação de cerca de 46% dos 70 parlamentares nestas eleições. Mudou boa parte dos bolsonaristas de plantão, assim como foram eleitos novos quadros da velha direita fluminense. A maior bancada será ainda bolsonarista, do PL, com 17 deputados, mas o resultado deste pleito mostrou uma fragilidade do bolsonarismo, que não conseguiu sequer manter a votação de 2018 de alguns dos seus principais quadros. Ou seja, o bolsonarismo revela assim o seu caráter transitório, que já havia sido demonstrado na fragilidade do governo Wilson Witzel, que caiu mesmo depois de uma excelente e surpreendente votação em 2018.
O Dia