Morte de Kathlen Romeu completa 100 dias e família aguarda respostas
A jovem grávida morreu com um tiro de fuzil, durante uma ação da PM, ao visitar familiares no Complexo do Lins. 'Enquanto eu tiver forças e vida estarei brigando por justiça', disse a avó de Kathlen
Rio - "São 100 dias que o Estado não se pronuncia, mas enquanto eu tiver forças e vida estarei brigando por justiça", disse a avó de Kathlen Romeu, que morreu aos 24 anos com um tiro de fuzil, durante uma ação da PM, ao visitar familiares no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio, no dia 8 de junho. A designer de interiores estava grávida de quatro meses.
Nesta quinta-feira, o crime completa 100 dias e a polícia ainda não apresentou o laudo da reconstituição que pode esclarecer os fatos. A reprodução simulada foi realizada no dia 14 de julho, mas até o momento o resultado não foi apresentado, segundo a família da jovem.
"Está muito difícil conviver esses dias sem ela. Essa morte não pode ficar impune. Não houve confronto, o policial atirou e matou a minha neta. Eles ainda estão acautelados no quartel? Será que estão mesmo? Será que estão em serviços burocráticos. Acho muito difícil, mas vamos esperar. Temos confiança na perícia técnica e não em corruptos. Nós não queremos dinheiro do Estado, só queremos justiça, porque nada vai trazer a minha neta de volta", desabafou Ângela Romeu.
Em nota, a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) informou que segue com a investigação e aguarda o resultado do laudo da reprodução simulada, que será anexado ao inquérito policial, para esclarecer a origem do disparo que atingiu Kathlen Romeu e concluir o caso.
Policiais afastados das ruas
Segundo a Polícia Militar, uma investigação interna foi aberta para apurar a conduta dos policiais envolvidos na ação e eles estão afastados do serviço nas ruas. A Divisão de Homicídios da Capital (DHC) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) investigam o caso.
Continua após a publicidade
Prática de 'Tróia'
Em agosto, a deputada estadual Renata Souza (Psol) protocolou na Alerj, nesta quarta-feira, um Projeto de Lei (PL) que proíbe a prática conhecida como 'Tróia' em ações policiais em todo o território do Estado do Rio. A iniciativa recebeu o nome de Kathlen Romeu. Agora, o PL precisa ser aprovado nas comissões de Constituição e Justiça e Direitos Humanos e pela Mesa Diretora.
Testemunhas do crime narram a prática de 'Tróia' por parte dos PMs durante a ação que resultou na morte de Kathlen. De acordo com eles, os policiais estavam de tocaia em uma casa aguardando o melhor momento para atacar a tiros traficantes da região. No momento dos disparos, Katlhen, que visitava parentes na comunidade, foi fatalmente atingida.
Relembre o caso
Kathlen estava na comunidade para visitar parentes e foi atingida durante um tiroteio entre a Polícia Militar e traficantes, segundo a corporação. A jovem chegou a ser socorrida, mas, conforme a Secretaria Municipal de Saúde do Rio (SMS), não resistiu aos ferimentos e morreu logo após chegar ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, também na Zona Norte.
O porta-voz da PM, major Ivan Blaz, disse na ocasião que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Lins foram atacados por traficantes. Segundo o porta-voz, os PMs foram os primeiros a chegar no local em que Kathlen estava. De acordo com ele, os militares afirmaram que não foram os responsáveis pelos disparos que mataram a jovem.
No entanto, ao contrário do que alega a corporação, os moradores da comunidade Barro Vermelho, no Complexo do Lins, reafirmam que o tiro de fuzil que matou Kathlen Romeu partiu da PM. Eles usam o termo "cavalo de troia" para explicar a ação dos militares.
"Eles fizeram 'troia' para atacar os bandidos, mas acabaram matando uma inocente grávida (Kathlen estava no quarto mês de gestação). Eles estavam escondidos dentro de uma casa desde a manhã, por várias horas, esperando os bandidos aparecerem. Quando eles surgiram, os PMs atiraram de dentro dessa casa. Mas quem morreu foi a menina inocente. Foram dois tiros apenas. Não houve tiroteio", disse uma moradora da comunidade, que afirmou ter presenciado o momento.
Segundo ela, os policiais só pararam de atirar após os gritos da avó da vítima, que foi atingida na Rua Araújo Leitão, por volta de 14h: "Logo depois dos tiros eu só vi a tia gritando: 'para, para, ajuda a socorrer'. Aí eles pararam de atirar. Eu fui ajudar e vi que a Kathlen tinha sido atingida", informou a moradora.
O Dia