Voltar ao site

Herdeiras de Marielle pedem combate à violência política no RJ

· Matérias

Herdeiras de Marielle pedem combate à violência política no RJ

Mulheres negras e com origem em regiões periféricas estão alarmadas com as revelações recentes no caso de Marielle Franco. A atuação política dessas mulheres é vista como um risco, uma vez que elas demonstram resistência à ligação entre crime e agentes do estado. Nomes considerados “herdeiros” das causas defendidas pela vereadora assassinada há seis anos veem no desfecho do caso uma oportunidade para eliminar a violência política no país.

No último domingo (24), a Operação Murder Inc. realizou três prisões preventivas e 12 mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro, todos relacionados à morte da vereadora e do seu motorista, Anderson Gomes. Os presos foram Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro, o deputado federal Chiquinho Brazão, expulso do partido União Brasil/RJ na segunda-feira (25), e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil do RJ. Os irmãos Brazão são apontados como os mandantes do crime, enquanto o delegado Rivaldo é acusado de auxiliar no planejamento e dificultar as investigações.

A ação foi coordenada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e pela Polícia Federal (PF).

Contrariando interesses

Nascida no morro do São Carlo, a menos de um quilômetro do local onde o carro de Marielle foi atingido por 13 tiros, a deputada estadual Dani Monteiro (Psol) se tornou, aos 27 anos, a mulher mais jovem a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Segundo Dani Monteiro, trabalhar por direitos humanos envolve um embate contra interesses obscuros de agentes do estado. Ela aponta que o Rio de Janeiro é estruturado por grupos políticos com projetos de poder próprios, que buscam manter as instituições sob seu controle.

Dani Monteiro, que foi assessora parlamentar de Marielle, destaca que a investigação da PF revela que o Estado é o responsável pela insegurança, promovendo violência em diversas formas e atuando em prol de interesses políticos e institucionais. Para a deputada, é fundamental expor, debater e propor soluções diante disso.

Surpresa e risco

A militante pelos direitos humanos e ex-deputada estadual Mônica Francisco foi pega de surpresa com a notícia do envolvimento do delegado Rivaldo Barbosa no crime. Ela destaca que Rivaldo era visto como uma figura aliada, de cumplicidade e parceria, por ser próximo a Marielle e aos ativistas de direitos humanos. Rivaldo foi a primeira autoridade a receber as famílias de Marielle e Anderson após o assassinato.

Mônica ressalta que ela e toda a equipe da vereadora foram interrogadas várias vezes na delegacia de homicídios, ficando expostas e vulneráveis. Ela classifica as prisões como uma confirmação de que a morte de Marielle foi um crime político, perpetrado por setores da política alinhados a setores da polícia.

Essa conexão entre criminosos e autoridades faz com que Mônica enxergue a atuação dela e dos ativistas como um “ato político de risco”, em meio a uma necessidade de reestruturar a segurança pública no Rio de Janeiro.

PEC contra milícias

De acordo com a deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ), muitos estados do país, especialmente o Rio de Janeiro, têm uma organização em que “crime e política são indissociáveis”. Ela destaca que isso representa uma grande ameaça à democracia, principalmente para aqueles que lutam contra o domínio armado dos territórios e a violência estatal.

Para enfrentar de forma contundente o poder das milícias, Talíria e outros parlamentares protocolaram uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) na Câmara dos Deputados. A PEC visa transferir para a esfera federal a investigação de crimes cometidos por grupos paramilitares envolvendo agentes do Estado.

A deputada ressalta a importância da PEC contra as milícias para impedir que os crimes cometidos por esses grupos sejam investigados por agentes envolvidos nos esquemas. Ela destaca a urgência de combater o poder das milícias e a necessidade de uma investigação imparcial e independente.

Engrenagem cruel

A deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) expressa uma mistura de sentimentos ao receber as notícias das prisões no caso Marielle Franco. Ela destaca a relação entre crime, polícia e política, apontando para a violência política como uma realidade aterrorizante no Rio de Janeiro.

Assim como Marielle, Renata foi criada na Maré, conjunto de favelas do Rio, e destaca a importância de buscar justiça para as mulheres negras, de favela e periferia que enfrentam diariamente a violência política. Ela ressalta a necessidade de repensar a segurança pública no estado e de combater a cultura da violência na política brasileira.

Instituto Marielle

A diretora executiva do Instituto Marielle Franco, Lígia Batista, considera as prisões dos envolvidos como um marco histórico na busca por justiça e na preservação do legado de Marielle. Ela destaca a necessidade de questionar a relação entre polícia e política e de garantir uma investigação independente.

Lígia enfatiza a importância de condenar os envolvidos no crime como um sinal de repúdio à violência e à impunidade. Ela destaca a fratura exposta no caso Marielle como um reflexo da cultura política do país, que precisa ser revista e transformada.

Investigação

Segundo as investigações da Polícia Federal, o assassinato de Marielle Franco está ligado a questões fundiárias envolvendo as milícias do Rio de Janeiro. O relatório da PF aponta uma disputa entre Marielle e o grupo político de Chiquinho Brazão em torno de um Projeto de Lei na zona oeste da cidade.

Marielle e Anderson Gomes foram mortos a tiros em 14 de março de 2018, após uma agenda de trabalho no Rio de Janeiro. Após seis anos, nenhum executor ou mentor do crime foi condenado pela Justiça, o que reforça a necessidade de uma investigação minuciosa e justa para garantir justiça às famílias das vítimas e para todas aqueles que lutam por um Brasil mais justo e democrático.

Portal Maratimba