Gravidez depois dos 40: tudo o que você precisa saber
Deputada de 41 anos está grávida do primeiro filho. Atriz Deborah Secco, de 44, quer ser mãe de novo. Especialistas explicam gravidez tardia
Aos 41 anos, a deputada estadual Renata Souza (Psol) está grávida do seu primeiro filho. Ela anunciou a gestação em suas redes sociais no fim de semana em um vídeo e recebeu parabenizações de amigos, seguidores e seguidores. Mas a novidade foi anunciada solenemente durante sessão especial que discutiu projetos para pessoas raras, deficientes, com doenças crônicas e transtornos mentais, na última terça-feira (26), no Palácio Tiradentes.
“Aproveitando a excepcionalidade, anuncio que a deputada Renata Souza é a mais nova mamãe do ano, está gravidíssima. Fazemos uma homenagem a esse bebê que chegará em breve. Parabéns, mamãe Renata! Que seja bem-vindo esse bebê”, felicitou a deputada Tia Ju (Republicanos), que presidia os trabalhos parlamentares.
“É muita emoção ver a senhora anunciando que estou gerando uma nova vida. Hoje, aqui batem dois corações, e isso não é qualquer coisa para nós, mulheres, que devemos ter nossos desejos respeitados, nossas vontades respeitadas. Estou muito feliz”, disse ela, agradecendo os cumprimentos dos demais colegas.
Deborah Secco, de 44 anos, quer ser mãe novamente
Cada vez mais mulheres estão sendo mães após os 40 anos. Segundo o IBGE, nos últimos 10 anos, observou-se uma alta expressiva no número de mulheres grávidas entre 35 e 39 anos, enquanto o número entre as mais jovens (até 19 anos) diminuiu. Em entrevista à Revista Quem, a atriz Deborah Secco, de 44 anos, contou sobre seus planos em relação à maternidade.
“Hoje não vejo a maternidade como uma possibilidade. Mas acho que a vida é… Uma das coisas que mais amo em mim é minha capacidade de mudar de ideia. Realmente prefiro ser uma metamorfose ambulante. Pode ser que daqui a dois meses pense diferente”, disse Deborah, que já é mãe de uma menina.
Os motivos para essa mudança na faixa etária das gestações no Brasil são muitos: carreira, planejamento familiar e desenvolvimento pessoal e financeiro. Adiar demais a gestação pode ser um problema, pois um dos fatores de maior impacto nas chances de gravidez espontânea é a idade da mulher.
Dos 31 aos 35 anos a probabilidade de engravidar é de 15% em cada mês de tentativa, ou seja 80% de chances de gravidez em um período de 12 meses. Com 35 anos, essa taxa cai significativamente para 9% ao mês e 50% durante o ano.
Gravidez aos 40, é possível?
Mas a partir dos 40, com a chegada do climatério e menopausa, ainda é possível engravidar naturalmente?! Quais as chances de gestação tardia?
A gravidez após aos 40 anos é considerada de risco e as chances de conseguir engravidar são pequenas. Nesta idade a probabilidade é a mesma que com 35 anos, 9% durante um mês de tentativas e 50% dentro de um ano. Entre os 41 e 42 anos as chances caem para 4% durante o mês e 20% durante o ano.
“As chances de gravidez caem consideravelmente após os 35 anos e reduzem de uma forma extremamente abrupta a partir dos 38, 39 anos. Para se ter uma ideia, enquanto a chance de gravidez em um ano de tentativas é de 96% aos 25 anos e de 84% aos 35 anos, aos 40 anos essa taxa cai para 55% e para 35% aos 43”, destaca Rodrigo Rosa, diretor clínico da Mater Prime, em São Paulo.
O especialista em reprodução humana explica por que isso ocorre: “As mulheres já nascem com uma quantidade pré-determinada de óvulos, que também envelhecem com o passar dos anos, com consequente diminuição de sua qualidade, passando a apresentar mais alterações cromossômicas e menos energia para gerar um embrião saudável”.
Gravidez na menopausa
A menopausa, que começa a apresentar seus primeiros sinais a partir dos 45 anos, é basicamente, a interrupção natural do ciclo menstrual, mas antes da ausência da menstruação por, no mínimo, um ano, sintomas como secura vaginal, queda de libido, insônia, ondas de calor e instabilidade de humor também indicam a chegada dela.
Durante a menopausa a mulher tem uma queda brusca na produção de estrogênio e de progesterona causado pelo processo gradativo do fim da ovulação, e como a gravidez acontece a partir da fecundação do óvulo, a chance de uma gestação natural nesse período é quase nula, porque mesmo que um óvulo chegue a ser fecundado, o útero não é capaz de manter um embrião de forma saudável por conta das baixas hormonais.
Por outro lado, no intervalo entre a idade fértil e a menopausa, existe o climatério, e mesmo que nesse período de transição o ciclo da mulher se mostre irregular, ela continua ovulando, então, apesar de remota, a chance de uma gestação natural é possível. Se uma gravidez é indesejada, é recomendado o uso de métodos contraceptivos regularmente.
Menopausa não é o fim do sonho da maternidade
Mulheres que chegaram menopausa e ainda sonham com a maternidade, não precisam perder as esperanças. A menopausa não representa obrigatoriamente o fim da possibilidade de gerar uma criança. Nesses casos, técnicas de reprodução humana podem ajudar.
“Com as evoluções tecnológicas a nosso favor, a medicina está cada vez mais avançada. Uma mulher nessa fase da vida pode fazer tratamentos e engravidar por técnicas como a fertilização in vitro”, ressalta a médica ginecologista Beatriz Tupinambá, especialista em menopausa e reprodução humana.
A fertilização in vitro (FIV) consiste em fecundar óvulo (doado ou previamente congelado) e espermatozoide em ambiente laboratorial, formando embriões que serão cultivados, selecionados e transferidos para o útero da mulher. Pode ocorrer via FIV convencional ou ICSI (Injeção intracitoplasmática de espermatozóides).
Atriz de 33 anos fez congelamento de óvulos
A atriz Carla Diaz, de 31 anos, revelou que o motivo de não ter aceitado convites para desfilar no Carnaval de 2024, é ter aproveitado a folga no começo de ano para realizar o procedimento. Nas redes sociais, ela publicou um vídeo em que fala sobre o sonho de ser mãe e explicou sobre a decisão.
“Um dos meus desejos é ser mãe. É um sonho meu. Não sei quando e como será, mas, em busca de realizar esse desejo, eu realizei o processo de congelamento de óvulos”.
A Fertilização In Vitro (FIV) é um dos tratamentos de reprodução humana mais populares, com uso de congelamento de óvulos, uma opção para quem deseja postergar a gravidez, seja por motivo pessoal, profissional ou de saúde. Para o especialista em reprodução humana João Guilherme Grassi, o processo funciona como um “seguro” para o futuro.
“Com o avanço da idade, os óvulos vão perdendo qualidade, porque eles estão com a mulher desde que ela nasceu, ou seja, tem a idade da mulher. Também reduzem significativamente em quantidade. O congelamento pode ser uma opção muito interessante para quem deseja engravidar mais tarde, pois preserva as condições atuais dos óvulos”, explica.
Aos 40 anos, chance de embrião gerar bebê é de 10 a 15%
O sucesso do procedimento, que busca preservar a fertilidade, depende da idade da mulher quando ele foi realizado, e também do número de óvulos. “Não é todo embrião que gera um bebê, aos 35 anos cada embrião vai ter uma chance de 20% de gerar um bebê, aos 40 a chance é de 10% a 15%, e aos 45 a chance é de 1% por embrião”, pontua Dr João Guilherme.
Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana, explica que as taxas de sucesso da FIV por meio do congelamento de óvulos também são afetadas pelo processo de envelhecimento, já que a idade do óvulo utilizado é que determina a chance de gravidez. “Para se ter uma ideia, a chance de gravidez na FIV com óvulo próprio aos 44 anos é de 5% e aos 45 anos é menor que 1%”, explica o médico.
As etapas do congelamento de óvulos duram cerca de 10 dias. Tudo começa com a avaliação da paciente no momento em que ela menstrua, através de uma ultrassonografia. Se tudo estiver bem, a mulher é induzida, por meio de hormônios, a amadurecer mais óvulos, tendo em vista que o normal é apenas um a cada ciclo menstrual.
A fase final é a de coleta, feita sob sedação. Um procedimento rápido e pouco invasivo que dura cerca de uma hora. Quando a paciente decide engravidar, a clínica descongela os óvulos e realiza a fertilização in vitro. “Ainda que seja feito o congelamento dos óvulos, o ideal é que a paciente não postergue demasiadamente a maternidade. Por mais que as taxas de sucesso atuais do procedimento sejam excelente, não é possível garantir sucesso” explica o Dr João Guilherme.
Ovorecepção pode ser alternativa para aumentar chances
Para Dr Rodrigo Rosa, existem exceções à regra, como mulheres com reserva ovariana acima da média ou que congelaram os óvulos anteriormente. “Mas, quando esse não é o caso, a solução é o tratamento conhecido como ovorecepção”, destaca o especialista.
De acordo com o médico, a ovorecepção consiste no uso de óvulos doados para a realização da Fertilização In Vitro, que serão fecundados em laboratório com o sêmen do parceiro ou também de um doador, para, em seguida, serem inseridos no útero da mulher que gerará o bebê.
“Através desse método, as chances de gravidez por meio da Fertilização In Vitro aumentam para cerca de 60% por tentativa mesmo em mulheres que já apresentam uma idade mais avançada, com mais de 40 anos”, explica o Dr. Rodrigo.
Segundo ele, ao contrário do que muitos pensam, a gravidez por doação de gametas, sejam óvulos ou espermatozoides, não reduz o papel de pais do casal receptor, afinal, são eles que garantirão que a criança cresça feliz e saudável.
“É fundamental que temas como esses sejam cada vez mais discutidos para conscientizar a população sobre a importância da doação de gametas e para naturalizar a recepção dos óvulos e espermatozoides em tratamentos de fertilidade”, afirma.
Como é feita a Fertilização in Vitro com ovorecepção?
Uma vez optada pela ovorecepção, a Fertilização In Vitro ocorre como qualquer outra, com os óvulos doados sendo fertilizados em laboratório com os espermatozoides.
“No período que procede a fertilização dos óvulos, os embriões vivem em um prato, em um forno aquecido à temperatura corporal. A equipe monitora seu crescimento e desenvolvimento e, eventualmente, escolhe o correto para transferir de volta para o útero. O embrião então é gentilmente transferido de volta ao útero em um processo semelhante ao do teste de Papanicolau. Se você tiver muitos embriões saudáveis neste estágio, eles podem ser congelados para uso posterior”, conta o Dr. Rodrigo Rosa.
Cerca de uma semana e meia a duas semanas depois que o embrião foi transferido, é feito um teste para ver se ele está aderido ao útero. “Um simples exame de sangue, ou mesmo um teste de gravidez caseiro, detectará os níveis de gonadotrofina coriônica humana (HCG), um sinal de que você finalmente está grávida”, diz o médico.
Com o teste positivo, inicia-se o período final de espera: as 38 semanas até o parto. A partir daqui a gestação segue normalmente como qualquer outra. Mas, é claro, um pequeno número de gestações é interrompido por abortos, sendo fundamental então adotar bons cuidados obstétricos para evitar complicações.
“Aqui os hábitos de vida dizem muito. Checar os níveis de Vitamina D também precisa ser feito, uma vez que a própria atuação da vitamina D no sistema imunológico também pode ter impacto na concepção. Níveis baixos podem resultar em rejeição da implantação do embrião pela gestante, tanto na fertilização in vitro ou na gravidez espontânea. Na dúvida, não tenha medo ou vergonha de fazer quantas perguntas quiser ao seu médico e de pedir clareza quando não entender algo, afinal, a gestação é um grande sonho”, finaliza o médico Dr. Rodrigo Rosa.
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