Rio - Um levantamento da plataforma Fogo Cruzado mostrou que 100 crianças foram baleadas na Região Metropolitana do Rio entre 2016 e 2021. No último sábado, houve mais uma vítima. O menino Kaio Guilherme da Silva, de 8 anos, estava em uma festa onde faz aulas de reforço escolar, na Vila Aliança, em Bangu, na Zona Oeste do Rio, quando foi atingido por uma bala perdida na cabeça. Ele segue em estado grave. O estudo também apontou que Bangu foi o bairro com mais crianças atingidas nestes quase 5 anos, foram cinco vítimas. E a Vila Aliança, empatada com o Morro do Juramento, foi a comunidade com mais vítimas, foram três em cada.
Das 100 vítimas com idade inferior a 12 anos, mapeadas pelo Fogo Cruzado, 29 não resistiram. Do total de vítimas, 39 foram baleadas em ações onde havia a presença de agentes de segurança. Destas, 10 morreram.
Nos primeiros minutos de 2021, foi mapeada mais uma vítima da violência armada. Ainda na virada do ano, Alice Pamplona da Silva, de 6 anos, foi morta a tiros na comunidade do Turano, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. A menina foi atingida por uma bala perdida disparada durante a comemoração do fim do ano. Até o dia 18 de abril de 2021, já foram seis crianças baleadas no Grande Rio: duas morreram. O ano que passou também levou Emily Victória Silva dos Santos, de 4 anos, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7. As primas foram mortas por balas perdidas no dia 4 de dezembro, durante uma ação policial, no Barro Vermelho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. As meninas brincavam na porta de casa, perto das mães. Pouco mais de um mês depois, as primas ganharam homenagem na esquina da rua onde moraram por tão pouco tempo. Um muro foi grafitado por moradores de Duque de Caxias com o rosto das meninas e um pedido por justiça. Emily e Rebecca foram duas das 22 crianças baleadas no Grande Rio em 2020. Além delas, outras seis crianças morreram.
Crianças baleadas ao longo dos anos
Em 2019 foi a Ágatha Vitória Sales Felix, de 8 anos, partir. A menina foi morta durante operação policial no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, em setembro, quando voltava para a casa com a mãe. Naquele ano, 24 crianças foram baleadas: sete delas morreram. No ano da intervenção federal, em 2018, houve o maior número de crianças baleadas no Grande Rio desde quando o Fogo Cruzado começou a mapear estas vítimas, em 2016. Foram 25: quatro delas não sobreviveram. Entre as vítimas, João Victhor Valle Dias, de 9 anos. O menino foi morto por uma bala perdida quando soltava pipa na laje de uma casa na Favela da Fazendinha, no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, no dia 22 de novembro. A origem dos disparos nunca foi identificada. Em 2017, Arthur conheceu o mundo sendo vítima da violência armada. O menino, que ainda estava na barriga de Claudineia dos Santos Melo, foi atingido por uma bala perdida no dia 30 de junho, durante um tiroteio na Favela do Lixão, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Claudineia teve que fazer uma cesariana de emergência e o bebê ficou internado em estado grave durante um mês - e não resistiu. A mãe de Arthur sobreviveu. Naquele ano, 18 crianças foram baleadas no Grande Rio: oito morreram. O Fogo Cruzado informou que quando começou o levantamento, em julho de 2016, um menino de 7 anos foi atingido por uma bala perdida em Coelho Neto, Zona Norte do Rio, após tentativa de roubo a um carro terminar em tiroteio no dia 17 de setembro. Em 2016, houve cinco crianças baleadas no Grande Rio: todas sobreviveram. Nem sempre foram balas perdidas Das 100 crianças baleadas na Região Metropolitana do Rio, 76 foram atingidas por balas perdidas, 20 delas morreram. Indo contra esses dados, o pequeno Douglas Enzo Maia dos Santos Marinho, de 4 anos, mal conseguiu aproveitar sua festa de aniversário, que tinha o Hulk como tema. O menino foi morto a tiros propositalmente por um dos convidados de sua festa, em Piabetá, Magé, na Baixada Fluminense, no dia 7 de junho de 2020. Medo na escola Maria Gabriela Sathler, de 11 anos, cursava o 6° ano do Ensino Fundamental na Escola Municipal Espírito Santo, em Cavalcanti, na Zona Norte do Rio, quando foi atingida por uma bala perdida dentro do colégio. A menina foi baleada quando brincava na quadra com uma amiga, no dia 25 de abril de 2018. No momento em que foi atingida, havia um tiroteio próximo à escola. Maria Gabriela foi uma das quatro crianças baleadas que, assim como ela, estavam indo/voltando/dentro da escola nestes 5 anos: três delas sobreviveram. Desprotegidas dentro de casa Anna Carolina de Souza Neves estava em casa quando foi morta, aos 8 anos de idade, no Parque Esperança, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Era noite de sexta feira, 10 de janeiro de 2020 e Anna estava no sofá de casa com os pais quando foi atingida por uma bala perdida. A origem dos tiros não foi identificada. Do total de crianças baleadas em quase 5 anos, 17 foram baleadas quando estavam dentro de casa: 8 delas não resistiram. Levantamento dos motivos das mortes Os principais motivos dos tiros que vitimaram as 100 crianças baleadas na Região Metropolitana do Rio neste período, estão ação e operação policial (32 vítimas: oito mortas e 24 feridas); homicídio e tentativa de homicídio (12 vítimas: sete mortas e cinco feridas); ataque a civis (10 vítimas: uma morta e nove feridas); Roubo e tentativa de roubo (seis vítimas: duas mortas e quatro feridas); e Briga (seis vítimas: uma morta e cinco feridas). Vítimas de todos os lugares - Mais da metade das crianças baleadas no Grande Rio foram vitimadas no município do Rio de Janeiro: 59 crianças. Em seguida, houve mais crianças baleadas em São Gonçalo (12), Duque de Caxias (9), Belford Roxo (6) e São João de Meriti (3). Entre os bairros, Complexo do Alemão, Bangu e Campo Grande foram os que mais tiveram crianças baleadas, com 4 vítimas em cada. - 64% das vítimas foram baleadas em favelas: 20 morreram e 44 ficaram feridas. Entre as localidades que concentraram mais vítimas, estão: Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, e Vila Aliança, em Bangu (três em cada - sendo uma morta e duas feridas); Favela do Para Pedro, em Colégio (três feridas); e Barro Vermelho, em Duque de Caxias (duas mortas). Prioridade nas investigações Em janeiro deste ano, foi sancionada uma lei, conhecida como 'Lei Ágatha Felix', de autoria das deputadas Dani Monteiro (PSOL), Renata Souza (PSOL) e Martha Rocha (PDT). A lei garante prioridade nas investigações de crimes contra a vida de crianças e adolescentes.
O Dia