São Paulo – Mais de 150 pessoas assassinadas por mês pela polícia do Rio de Janeiro. Este é o saldo do início do mandato do governador Wilson Witzel (PSC). Sem políticas públicas para as demandas sociais, entidades também questionam o discurso do governador, apontado como ilegal e responsável pelo aumento da letalidade da polícia no estado.
A segurança pública foi o foco de toda campanha eleitoral do governador e a pasta que mais recebeu atenção, nos primeiros meses de governo. Witzel acabou com a Secretaria de Segurança, deu mais autonomia às polícias e adotou um discurso com medidas de maior repressão.
No entanto, os resultados são desastrosos no que se refere à garantia de direitos humanos. A letalidade policial, em 2019, é a maior dos últimos 16 anos. Apenas nos meses de janeiro e fevereiro, 305 pessoas foram mortas pela polícia no estado.
“O que ele está propondo abertamente é ilegal. Os setores que defendem esse tipo de abordagem estão propondo uma modificação legal no Congresso, a chamada Lei do Abate. Mais cedo ou mais tarde, os policiais acusados de execução sumária, no Rio de Janeiro, vão ser julgados e as defesas deles vão dizer que estavam cumprindo ordens do governador. Vamos ver se o Ministério Público irá processar o Witzel como mandante das mortes”, questionou Ignácio Cano, sociólogo do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), à repórter Viviane Nascimento, no Seu Jornal, da TVT.
Diante da afirmação de Witzel de que os atiradores de elite já estão atuando, uma representação foi enviada ao Ministério Público e às polícias, solicitando informações sobre as operações com esses profissionais.
“Quando a gente olha na Constituição Federal e nas nossas leis, não existe pena de morte, e o governador está praticando a pena de morte, no chão da favela todos os dias. É um crime contra a humanidade”, criticou a deputada estadual Renata Souza (Psol), presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio.
Passados pouco mais de 100 dias de Wilson Witzel no comando do Rio de Janeiro, a população se vê diante de um estado estagnado. Com problemas nas áreas de saúde, educação e infraestrutura, o Rio ainda vive a angústia de poucas propostas para a mudança desse quadro.
“Nós temos um nível de paralisação há muito agoniante em relação a educação, saúde, ciência e tecnologia. As três universidades estaduais estão paralisadas. Em 100 dias temos um quadro instantâneo do que nós tínhamos em 2017 e 2018”, explicou Paulo Baía, sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A grande dificuldade é a baixa arrecadação do estado, reflexo da situação ruim da economia nacional, além do regime de recuperação fiscal, assinado com a União, no final de 2017, que congela investimentos e engessa a atuação do governo.
“A dificuldade do Witzel é muito grande, porque ele mantém a ideia de que quer renegociar, mas não tem esse aceno de renegociação por parte da equipe econômica do governo federal”, acrescentou Baía.
Rede Brasil Atual