As eleições municipais deste ano terão a recuperação das cidades do efeito devastador do coronavírus sobre as atividades econômicas como tema central. Com muitas das capitais sequer tendo ainda atingido o pico de casos e de mortes, a capacidade de recuperação das cidades poderá ser um fator decisivo para decidir as disputas municipais.
Prefeitos que disputam reeleições sabem que enfrentarão uma enorme dificuldade extra. Com a economia quebrada e com o desemprego aumentando, a tarefa de ser o “prefeito da crise” tem causado um desgaste extra. A adoção de medidas rígidas de isolamento causa reclamação de empresários e comerciantes, por exemplo. O afrouxamento dessas medidas causa acusações de falta de preocupação com a saúde da população.
Aqueles que conseguirem dar as melhores respostas para os problemas causados pela crise terão chances de sobreviver. Mas os dirigentes partidários preveem uma redução na taxa de reeleição de prefeitos. Por conta da crise sem precedentes, os atuais administradores terão de lidar com a tarefa de levantar suas cidades com muito pouco dinheiro disponível. No Congresso, parlamentares avaliam que quanto maior for o impacto do coronavírus na cidade, mais difícil será a reeleição. E mesmo aqueles que se elegerem sabem que a crise econômica e o desemprego ainda devem permanecer pelo próximo ano em níveis elevados.
Mudança de vento
Se a eleição municipal de 2016 foi marcada fortemente pelo antipetismo e a nacional de 2018 pela ascensão do bolsonarismo, a de 2020 pode representar uma espécie de freio de arrumação no cenário político. Um ano e meio depois de ter chegado ao Planalto, Jair Bolsonaro se viu envolvido com tantas crises políticas, que não conseguiu montar seu projeto político-partidário para estrear na disputa municipal. Depois de romper com o PSL, partido pelo qual se elegeu, o presidente fundou o Aliança Pelo Brasil. A ideia era usar a legenda para englobar todos os políticos que desejassem apoiar seu projeto de poder. Mas a ideia não vingou até agora. O partido passou longe de ficar pronto a tempo da eleição deste ano e há quem duvide, inclusive, que o projeto siga adiante.
Até porque o clã bolsonarista já se abrigou em grande parte no Republicanos. Para lá já foram o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro. A ex-vereadora Rogéria Bolsonaro, mãe dos três filhos mais velhos do presidente e sua ex-esposa, também foi para a legenda e deve concorrer a algum cargo eletivo.
Mas o bolsonarismo, em geral, se dispersou e não conseguiu formar um bloco político sólido em torno do presidente. Pelo contrário. O grupo que se elegeu em torno da onda bolsonarista já se dispersou. Deputados federais que tiveram votação expressiva como Joice Hasselmann (PSL-SP), Alexandre Frota (PSDB-SP), Professora Dayane Pimentel (PSL-BA) e a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) são apenas alguns dos muitos parlamentares que já desembarcaram do projeto.
Antipetismo ainda pesaCom a crise envolvendo o governo e causando seu enfraquecimento e mais o peso do impacto do coronavírus, o terreno político pode acabar beneficiando candidatos que preguem mudanças em geral, mas sem o tom da direita e do conservadorismo representado por Bolsonaro. Mas isso não significa que esse voto migraria para o lado oposto, já que a esquerda, especialmente o PT, ainda sofre o desgaste pelos escândalos do petrolão e do mensalão e pela prisão do ex-presidente Lula e pelo impeachment de Dilma Rousseff.
Não é à toa que o PT ainda tenta se organizar na disputa das principais capitais. Em São Paulo, não deu certo o movimento para convencer Fernando Haddad a disputar a capital e o partido lançará o ex-deputado federal Jilmar Tatto.
No Rio, fracassaram, até agora, todas as conversas em torno de uma frente reunindo as forças da esquerda. O PT deve ter como candidata a veterana deputada federal Benedita da Silva. O Psol vai concorrer com a deputada estadual Renata Souza, a mais votada entre as candidatas da esquerda. E PDT, PSB e Rede terão candidato único, que será escolhido entre a deputada estadual Delegada Martha Rocha (PDT) e o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello (Rede). Com as forças diluídas, o desafio da esquerda será superar o atual prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que deverá ter apoio do bolsonarismo, e o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
Com muito desgaste, Crivella é outro que tem sua tarefa dificultada pelo desgaste de administrar os efeitos do coronavírus. E sua condução tem sido alvo de críticas pesadas. Mesmo com números muito elevados na pandemia, Crivella liberou para funcionamento muitos setores, incluindo bares e restaurantes. Isso gerou uma das imagens mais icônicas do negacionismo e irresponsabilidade diante da pandemia, como ocorreu na noite do dia 2, com os bares do Leblon abarrotados de gente aglomerada e sem máscaras.
BR Político