A deputada estadual Renata Souza (PSOL) registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) da Polícia Civil do Rio de Janeiro nesta segunda-feira, 21. Ela recebeu uma ameaça de morte por meio de redes sociais que citou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em uma emboscada a tiros com o motorista Anderson Gomes no Estácio, região central da cidade, em 14 de março de 2018.
Renata foi assessora do gabinete de Marielle e chegou a chefiá-lo por cerca de um ano. Atualmente, a deputada estadual preside a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que lida com denúncias de violações aos direitos humanos no estado.
“São ameaças que atentam contra a minha vida e isso é muito grave, afinal de contas eu sou presidente da Comissão de Direitos Humanos, que trabalha com vários temas graves de violações, então não podemos subestimar qualquer tipo de ameaça”, declarou ela ao chegar na sede da Cidade da Polícia, no Jacaré, bairro da Zona Norte do Rio. “Essa é uma ameaça que inclusive cita Marielle. A gente já perdeu uma parlamentar importante na cidade do Rio de Janeiro, então a gente precisa que as autoridades policiais possam fazer uma investigação que traga para nós uma resposta contundente sobre esses criminosos”, prosseguiu.
A assessoria da deputada informou que “o agressor ameaçou a vida da parlamentar e disse ‘você fala de mais [sic]… vai perder a linguinha'”. Na mesma postagem, o homem escreveu: “Por isso que Marieli [sic] morreu”.
“O teor é, basicamente, tentando me silenciar. Falam que já aconteceu com a Marielle e vai acontecer com outra pessoa. O teor traz um questão de ‘falar demais’. Uma parlamentar que foi eleita para falar, parlar é igual a parlamento, da fala. Estou sendo ameaçada e cerceada. Minha atribuição enquanto legisladora está sendo ameaçada. Isso é uma ameaça à democracia”, descreveu.
Ela, no entanto, evitou palpitar sobre uma motivação específica e disse que compete à polícia investigar a apresentar os resultados sobre as ameaças. “Preciso que a polícia investigue. Espero que eles me deem resposta. Afinal de contas, existe um trabalho contundente à frente da comissão. Nenhum tipo de ameaça deve ser subestimada”, disse.
A deputada declarou também que informou as autoridades fluminenses sobre o assunto, como o secretário da Polícia Civil, Allan Turnowski, o governador em exercício Cláudio Castro (PSC), e também com o presidente da Alerj, André Ceciliano (PT). De acordo com a parlamentar, o trio se solidarizou e colocou as investigações policiais à disposição. Ela afirmou ainda que vai aguardar orientações dessas autoridades sobre como proceder a respeito de um possível reforço à sua segurança pessoal.
No mês passado, VEJA revelou que um miliciano ligado ao Escritório do Crime planejava um atentado contra a deputada federal Talíria Petrone (PSOL), segundo informações do serviço Disque Denúncia. Um inquérito foi aberto na Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Classificadas como “muito graves”, as ameaças fizeram com que Talíria deixasse o estado e escondesse seu atual paradeiro. O miliciano chegou a ser apontado como um dos executores de Marielle e Anderson no âmbito do inquérito de federalização do caso – que ficou popularmente conhecido como “investigação da investigação”.
No último dia 7, a reportagem de VEJA também revelou com exclusividade que dois milicianos do Escritório do Crime se filiaram ao PSOL em 2016, ano em que Marielle foi eleita. A suspeita da polícia é de que eles se infiltraram para fins de monitoramento do partido.
O grupo composto por milicianos e assassinos de aluguel era comandado pelo ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, o Capitão Adriano, morto pela polícia da Bahia em fevereiro deste ano em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Após a série de reportagens exclusivas de VEJA, o PSOL expulsou os milicianos dos quadros da sigla.
A ex-mulher de Adriano e a mãe dele são peças-chave na investigação e na denúncia feita pelo Ministério Público do Rio de um suposto esquema de corrupção no gabinete de Flávio Bolsonaro quando este era deputado estadual na Alerj, popularmente conhecido como “rachadinha”. Flávio foi acusado de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. A denúncia será avaliada pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), colegiado composto por 25 desembargadores.
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