A segurança pública é um tema central na discussão sobre a vida nos estados. E no Rio de Janeiro, devido à postura “justiceira” adotada por seu governador, Wilson Witzel (PSC), o assunto ganha contornos mais drásticos. Na manhã desta quinta-feira (17), com objetivo de apresentar a perspectiva da parcela da população mais pobre e, por isso, mais afetada pelas operações policiais nas favelas e periferias e apontar soluções para a questão, foi realizada uma audiência pública sobre o tema na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O clima de insatisfação com a política adotada pelo Executivo fluminense era evidente no plenário lotado e ficou ainda mais intenso devido a ausência de representantes das forças de segurança e do Governo do Estado do Rio de Janeiro. “É lamentável o governador não se propor a ouvir o povo”, criticou a deputada Renata Souza (PSOL).
Organizado por mães e mulheres de pessoas mortas em decorrência de ações da polícia, o debate contou com a presença de movimentos, do Ministério Público (MP), da Defensoria Pública, da OAB/RJ e da Subsecretaria de Direitos Humanos do estado. Para Renata, “justamente por essa pluralidade, a atividade é de extrema importância para a construção de uma política de segurança pública humanizada e efetiva, baseada em investigação, inteligência e pautada na vida”.
Usada repetidas vezes pelo governador para definir o modo de atuação das forças policiais, a expressão de efeito “atirar na cabecinha” foi bastante lembrada e criticada no encontro. “O principal objetivo do movimento Parem de nos matar é fazer um contraponto a esse projeto genocida aprofundado após a eleição de Wilson Witzel. Vamos lutar nas ruas, de forma organizada, para mostrar para esse governo que ‘atirar na cabecinha’ não é, em hipótese alguma, a política de segurança que queremos. Reivindicamos nosso direito constitucional a uma vida digna”, ressaltou o secretário geral da Faferj, Felipe dos Anjos.
“Até quando vamos ficar enxugando sangue como se enxuga gelo?”, exclamou Maria
A indagação marcou o depoimento emocionado de Maria Dalva, do movimento Mães da Capital. A força das mulheres na busca por justiça para seus filhos e companheiros foi a tônica de sua fala. “Quando nosso filho vai pra escola, a gente quer que ele volte, mas ele não está voltando. Eu esperei que meu filho voltasse, mas não voltou. Há dezesseis anos eu estou com outras mãe na luta por reparação”.
No primeiro semestre, segundo o portal de notícias G1, a letalidade policial aumento 15,1 % em relação ao mesmo período do ano passado. Neste contexto de crise humanitária, crianças e adolescentes também não são poupados. Desde o começo do ano, foram registradas oito mortes em decorrência de ações da polícia. Levando em conta esse cenário, Gabriel Siqueira, das Brigadas Populares, apresentou uma reivindicação básica: “Não pode haver operações policiais perto das escolas. Temos que ter uma lei que garanta isso. Já passou da hora. Tiro de helicóptero não pode nem na guerra no Iraque. Aqui no Rio, os helicópteros atiram nas escolas”.