Comissão da Alerj avalia condições sociais do Jacarezinho: Mortes ocorreram 'como uma expressão cruel da miséria'
Equipe de enfrentamento à miséria encontrou índices negativos que ficaram acentuados após a operação policial que teve 28 pessoas mortas na comunidade
RIO — Um local onde mais de 50 mil pessoam convivem com infestação de ratos, taxas altas de tuberculose, desamparo psicológico e falta de comida, água, saneamento básico, moradia e de perspectivas para a juventude. Este foi o balanço feito sobre o Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, pela Comissão Especial de Enfrentamento à Miséria da Alerj. O grupo realizou uma visita técnica à comunidade na manhã desta segunda-feira.
Em três horas e meia, a comissão visitou — junto da associação de moradores local; do ouvidor Guilherme Pimentel, da Defensoria Pública; e da advogada Vanessa Lima, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ — a quadra da escola de samba Unidos do Jacarezinho, a Clínica da Família, a Associação de Moradores e o Núcleo Independente e Comunitário de Aprendizagem (Nica), que oferece um pré-vestibular comunitário, além de residências em situação precária. O objetivo geral foi avaliar as condições gerais de moradia da região que, de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é o sexto pior da cidade.
Após essa visita da equipe da comissão presidida pela deputada Renata Souza (Psol) — que compareceu junto dos deputados Waldeck Carneiro e Zeidan (PT) — será feito um mapeamento do que foi constatado no Jacarezinho. A partir disso, serão propostas políticas públicas estruturais de combate aos problemas encontrados. Algumas ações emergenciais já estão sendo articuladas.
De imediato, a comissão pretende provocar o governo para garantir acesso de água potável, coleta de lixo e saneamento básico. O governo também será convocado para oferecer serviço de saúde mental e assistência social aos moradores da localidade, que viu os seus problemas agravados pela pandemia e também pela operação da Polícia Civil do dia 6 de maio, quando 28 pessoas foram mortas na comunidade, sendo considerada a mais letal da história da cidade. Assim, palavras como "abandono", "invisíveis" e "esquecidos" se repetem nas falas de moradores e profissionais que atuam no local.
— A chacina ocorreu como uma expressão cruel da miséria em que a comunidade se encontra. Ficou notório que pelo menos 13 jovens dos mortos na chacina tinham passagem pela polícia, porém não se divulgou até agora que também tinham passagem pelo Centro de Referência da Juventude da favela e iniciativas de empregabilidade de jovens — disse Renata.
Há uma estimativa de que cerca de 80 mil pessoas vivam no Jacarezinho. Porém, as lideranças locais afirmam que este número está defasado, sendo que apenas 22 mil estão cadastradas na única Clínica da Família do local. De acordo com a equipe do Consultório de Rua, há ainda na comunidade pelo menos cerca de 2 mil pessoas em situação de rua, por causas como o desemprego, o despejo e a dependência química. Além disso, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPSad) existente na região não é suficiente para atender aos moradores que necessitam de acompanhamento.
— Nas conversas, ficou evidente que as políticas públicas existentes são bastante insuficientes para dar conta de tantos problemas. E a pandemia agrava esses problemas pré-existentes. Algumas ações são emergenciais e vamos agir para cobrar do Estado que aja logo para resolver a falta de água potável, de coleta do lixo, o combate aos ratos, e a oferta de assistência social e de atendimento psicossocial — afirmou a deputada, que chegou a conversar com a mãe de um dos mortos na operação, Márcio da Silva Bezerra, de 43 anos.
O Globo
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