Claudio, morador da Maré, é homenageado por salvar crianças de incêndio em creche
O nosso ‘Destaques de Favelas’ especial desse mês é dedicado a Claudio da Silva, de 42 anos, morador do Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ele trabalha há quase dois anos na creche Albano Rosa, na Avenida Bento Ribeiro Dantas, que infelizmente pegou fogo na tarde do dia 10 de setembro deste ano.
Decidimos homenagear Claudio porque ele, junto a outros trabalhadores da creche, participou do salvamento das crianças da escola enquanto o Corpo de Bombeiros não chegava no local.
Neste triste caso do incêndio, é importante chamar a atenção também para as condições precárias que algumas dessas instituições de ensino se encontram hoje na favela, a falta de atenção por parte do poder público pode levar a situações graves como estas.
Claudio tem três filhos. Foi pai cedo, tinha 17 anos. Ele nasceu em uma das primeiras favelas da Maré, a famosa Baixa do Sapateiro. “Tive uma infância dura. Quando nasci, morei nas palafitas na Baixa do Sapateiro e tudo era tão difícil. Com 6 anos de idade fui morar na Vila Pinheiro, ali sabia que tinha um chão pra pisar! Apesar de tudo, tive uma infância feliz mesmo crescendo vendo algumas situações de violência cotidiana!”, falou.
Assim como a maioria dos crias da Maré, ele nasceu no Hospital Federal de Bonsucesso. Foi criado pelos pais e contou que mesmo diante das dificuldades, assim como todos moradores de comunidades, ele teve muito amor e segurança. “Trabalho na creche há 1 ano e 8 meses. Desses 1 ano e 5 meses como controlador de acesso e há 3 meses como ASG. Por causa do carinho pela creche, me tornei quase um zelador ajudando a todos na escola fazendo até pequenos reparos etc”, disse.
Ele contou também como foi o dia do incêndio. “A diretora me chamou depressa e ofegante dizendo que estava pegando fogo na secretaria. Eu peguei um extintor que já estava na mão dela e corri para o almoxarifado. No canto da parede já tinha um paredão de fogo. Lembro que quando comecei usar o extintor uma fumaça se propagou e minha visão sumiu. Peguei outro extintor e quando comecei a usar senti a fumaça começando queimar minha pele, vidro estourando, mas eu sabia que tinha crianças nas salas e eu tinha que fazer algo”, relatou. Descreveu mais, “quando eu vi que poderia cair o teto e ficar preso na sala eu saí, a creche já estava vazia. Fui para a escola ao lado e mesmo com os olhos ardendo e dor no peito pelo cheiro da fumaça, ajudei a tirar as crianças da outra escola. Até ser conduzido por um agente de saúde para a clínica da família. Com um pouco de falta de ar”.
Hoje, Claudio está bem, assim como todas as crianças que foram salvas naquele dia. Todas elas serão realocadas para a escola Paulo Freire. Para terminar, ele pontua algumas questões para a segurança escolar. “Todos deveriam ter treinamento da CIPA. Deveria ter plano de segurança para esses casos. Poderia ter a volta da função de controlador de acesso que foi extinta. Algo grave é que algumas escolas estão sucateadas e infelizmente isso pode acontecer em outras unidades. Além disso, as crianças que foram afetadas pelo incêndio poderiam ter passeios escolares para distrair”, finalizou o nosso guerreiro favelado que de alguma forma ficará na lembrança de cada uma dessas crianças e moradores locais.
Nós, da Mandata Renata Souza, agradecemos por seus anos de dedicação ao trabalho escolar e por ter ajudado a salvar a cada uma das crianças mareenses.
Obrigada, Claudio!